terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Convém ir treinado, especialmente se este PGR for mandado guardar porcos

Sócrates fala como se fosse um "arguido"

Na entrevista de ontem, José Sócrates enterrou-se ainda mais: falou como se fosse um "arguido" (que tem direito ao silêncio), e não como um primeiro-ministro (que tem o dever de sair do silêncio).



I. Ricardo Costa tem razão: José Sócrates está a confundir o caso PT/TVI com o caso Freeport. O caso Freeport é um caso judicial, mas o caso PT/TVI é um caso político. E a estratégia que José Sócrates usou para o primeiro não pode ser usada para o segundo. No caso Freeport, as críticas devem ser dirigidas à justiça. Os factos que existem não são suficientes para atacar José Sócrates. E as explicações do primeiro-ministro, até ver, foram suficientes. O ónus está com a justiça. Mas no caso PT/TVI o ónus está com José Sócrates.

II. O caso PT/TVI é um problema político, que requer uma resposta política. Que ainda não tivemos. Ontem, na entrevista a Miguel Sousa Tavares, o primeiro-ministro voltou a confundir as coisas. No caso Freeport, José Sócrates tem o direito ao silêncio. No caso TVI/PT, José Sócrates não pode - como fez ontem - refugiar-se no silêncio, nas respostas evasivas ou na lengalenga da conversa privada.

III. José Sócrates falou como se fosse um "arguido" de um processo judicial; seguiu às riscas as instruções do seu advogado , refugiando-se num formalismo legal que não tem justificação (sobretudo para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem ). Sócrates falou como se Miguel Sousa Tavares fosse um magistrado, e não um jornalista. E isto é um absurdo. José Sócrates não é um "arguido", é o primeiro-ministro, e tem de falar como a franqueza de um primeiro-ministro.

IV. Além de revelar uma fraqueza política nunca vista, esta conversa de "arguido" revela imensas contradições internas no discurso de José Sócrates. Um exemplo: Sócrates diz que, "por princípio", não fala sobre coisas que violam o segredo de justiça, mas, depois, usa as violações do segredo de justiça que lhe são "favoráveis" (despacho do PGR). Ou seja, Sócrates não invoca o "respeito pelo segredo de justiça" por convicção, mas por mera conveniência.

Henrique Raposo (www.expresso.pt)


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