O conjunto de grandes investimentos públicos como o aeroporto de Lisboa, o comboio de alta velocidade ou a terceira travessia do Tejo "deve ser reponderado nos seus variados aspectos, em particular, em termos de prazo", diz o relatório trimestral da Saer - Sociedade de Avaliação de Empresas e Risco. No documento que faz a análise das perspectivas de evolução da economia portuguesa e dos problemas sócio-políticos de Portugal, Ernâni Lopes e José Poças Esteves consideram que "dificilmente serão imediatamente justificáveis grandes investimentos públicos de infra-estrutura".
Para estes economistas, o novo aeroporto de Lisboa pode aguardar e/ou arrancar por módulos consoante se revele necessário; o TGV poderá igualmente aguardar a recuperação da economia, e cremos não ser justificável mais do que uma linha de ligação Lisboa-Madrid; da mesma forma que a 3ª travessia do Tejo pode aguardar pelo TGV".
Os autores explicam que "não se trata de desistir destes investimentos que, em tempo próprio, poderão mostrar a sua utilidade e poderão trazer efectivamente mais-valias à economia portuguesa", mas argumentam que "a sua concretização num momento de crise e imediato pós-crise poderá, ao invés de estimular a recuperação económica, estrangular de tal forma as contas públicas que tornarão inviáveis outros projectos determinantes" que poderão ter mais impacto na recuperação da economia portuguesa.
Os investimentos públicos que estes economistas classificam de fundamental para ajudar a economia a superar a pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, são as "pequenas obras públicas com elevado factor multiplicador, potenciador de desenvolvimento local e facilitador do desempenho económico das populações; o apoio à exportação e à internacionalização das PME's e o apoio aos processos de reestruturação e de criação de empresas". Turismo, o Ambiente, as Cidades, os serviços de valor acrescentado e a economia do mar são os cinco domínios estratégicos em que Portugal deve apostar para sair da crise e garantir o desenvolvimento económico, diz o relatório.
Ernâni Lopes e Poças Esteves consideram que "não é de afastar a hipótese de que, em geral, as medidas de estímulo às economias prossigam por mais tempo do que era esperado quando foram desencadeados" e antevêem que "a economia portuguesa não deverá destoar muito do padrão de comportamento internacional, em particular, do da zona euro", regressando à consolidação orçamental "mal receba ou percepcione sinais nesse sentido de Bruxelas ou de Berlim".
O Relatório trimestral referente a Setembro de 2009 traça um quadro negro da evolução da economia nacional: Portugal tem um "sistema económico sem vitalidade, com um peso crescente do Estado na economia e na sociedade, e com uma dependência crescente da sociedade em relação ao poder do Estado", avaliam os autores, que se mostram muito críticos relativamente à capacidade de Portugal dar o melhor uso aos fundos comunitários.
"Apesar da melhoria do nível de vida da população, a utilização dos fundos externos não foi geradora de capacidade produtiva a prazo, determinante para o potencial da economia nacional fazer face ao serviço da dívida contraída.
Portugal é o único que, no período de 1995 a 2007, regista variação negativa do investimento (excluindo construção) em percentagem do PIB", sublinham os economistas.
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