Há vários impasses ao mesmo tempo. Um chama-se José Sócrates, o Primeiro-ministro de que metade dos portugueses (menos um) desconfia e desconfia por coisas que nunca desconfiou de nenhum outro Primeiro-ministro antes dele. Sócrates é um dos grandes óbices a que se possam começar a dissolver os impasses que nos deixam bloqueados.
Não me venham dizer que a oposição quer que Sócrates caia nos tribunais porque não o consegue derrotar nas urnas. Não sei se existe essa oposição, mas se existe eu não faço parte dela. Mas a frase de cima sobre a “a oposição que quer que Sócrates caia nos tribunais” é uma maneira de ocultar um problema real, que esse sim existente, haja ou não haja “a oposição que quer que Sócrates caia nos tribunais”: é que ele próprio colocou-se na situação de andar sempre a mílimetros dos tribunais. Não foi a oposição que andou a manipular currículos académicos, não foi a oposição que andou a assinar projectos de casas pagos não se sabe muito bem como e com que estatuto fiscal, não foi a oposição que inventou o senhor Charles Smith, e o tio e os primos, não foi a oposição que inventou Armando Vara e o “Face Oculta”, não foi a oposição que mentiu ao parlamento sobre o ainda obscuro processo da TVI, etc, etc. Demasiados eteceteras. Verdade seja, e isso pode ser a única coisa de que Sócrates é vítima a não ser de si próprio, que também não foi a oposição que coleccionou declarações inconsistentes e actos jurídicos atabalhoados por parte dos maiores responsáveis da justiça portuguesa que, no afã de protegerem José Sócrates, só aumentaram as suspeitas de que ele estava a ser protegido.
Por tudo isto, mesmo que não houvesse oposição, Sócrates iria continuar a ser um problema, porque o é para um número significativo de portugueses. Podem não ser a maioria, estar divididos entre si, mas são mais vocais, mais tenazes, mais motivados, do que a metade mais um que o apoia. E não estão dispostos a ser varridos para um canto escuro.
Não custa perceber que se, numa hipótese que sei ser puramente académica e num certo sentido democraticamente retorcida, porque quem ganhou as eleições foi Sócrates, o PS mudasse de Primeiro-ministro e outro dos seus dirigentes fosse encarregado de governar, o ambiente mudaria de imediato. Até penso que nessa hipótese académica, a oposição aceitaria a legitimidade da mudança e um melhor clima de entendimentos necessários poderia daí resultar. A arrogância, a intolerância, o quero, posso e mando dos últimos quatro anos, a persistência por vaidade pessoal em políticas erradas, a ocultação e a manipulação de estatísticas, deixaram estragos enormes na vida pública portuguesa, que, associados ao clima de desconfiança, tornaram Sócrates a face mais visível do impasse actual.
José Pacheco Pereira
domingo, 20 de dezembro de 2009
Só diria que mais do que um "impasse" é um TGV a levar Portugal para trás
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