terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Transcrição do dia



Camilo Lourenço

Desnorte governativo




Na sexta-feira, o presidente do Instituto de Gestão do Crédito Público veio dizer ao mercado que "o maior partido da oposição, que alterna com o PS na governação (…), revelou que está disponível para negociar um pacto de regime para os próximos quatro anos com o objectivo de consolidar as contas públicas". No comunicado, o IGCP listou ainda as medidas tomadas pelo Governo para por ordem nas finanças públicas.

A prosa tinha por destinatários os mercados financeiros. Só que estes não lhe prestaram atenção e o "yield" da dívida pública continuou a trepar, chegando a um diferencial de quase 0,96 pontos face à alemã. Outra coisa não seria de esperar. Os mercados olham mais para gestos que para palavras. E os gestos não têm existido (quando existem,são mal executados - v.g. o aviso à Função Pública de que não vai haver aumentos reais de salários, feito por um secretário de Estado).

Há outra razão para os mercados não terem ligado ao presidente do IGCP: não era ele que devia ter falado; era o ministro das Finanças. Porque a gestão do défice orçamental e da dívida pública é um problema político e não administrativo: quem faz acordos com o "maior partido da oposição" é o Governo, não o IGCP!

Esta subversão de competências mostra o desnorte do Governo, apanhado de surpresa pela desconfiança do mercado em relação à dívida da República. Tudo indica, no entanto, que Sócrates, ao privilegiar um acordo com o CDS, não percebeu a lição. É que o mal das nossas finanças públicas é estrutural: exige um acordo de legislatura, mas com partidos de ampla base social. Para tomar medidas difíceis.

Negocios.pt

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