sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dois mundos

Nos EUA um jogador de Golf, por uma questão de infidelidade conjugal, retirou-se da competição.

Em Portugal, envolvido em múltiplos casos de delinquência, o primeiro-ministro continua firme no poder.

O mesmo jogador de Golf perdeu vários contratos publicitários.

Cá é o que se verá... com um famigerado ex-jogador de futebol... agora mestre na jogatina da propaganda política...

Um pequeno-almoço

Por Vasco Pulido Valente



As mil e uma manhãs de revelações sobre esse estranho mundo que gira à volta do primeiro-ministro não param. Verdade que ele próprio, como disse a Miguel Sousa Tavares, não sabe nada, não autorizou nada e nem sequer foi informado. De qualquer maneira, cada dia chega pontualmente com o seu "caso". O último é um pequeno-almoço de propaganda de Sócrates com Luís Figo, na véspera de eleições, que a Taguspark alegadamente promoveu, favoreceu ou pagou (não se consegue perceber bem o quê e nenhuma versão do episódio se recomenda por uma especial clareza). Claro que Figo, sendo um homem inteligente e um cidadão português, tem todo o direito de se pronunciar sobre Sócrates. Só a Taguspark complica as coisas. Por que razão, apanhado por uma súbita onda de fervor político, Figo não telefonou directamente para a sede do PS?

De resto, na minha absoluta ignorância dos "negócios", confesso que não compreendo a ideia de contratar um jogador de futebol para "internacionalizar" um "parque tecnológico". Não vejo uma relação evidente entre o futebol e a tecnologia, excepto se as palavras "futebol" e "tecnologia" adquiriram ultimamente um significado esotérico que me escapa. Uma celebridade como Figo vive em parte de vender a sua imagem e é muito natural que a venda a marcas desportivas, produtos de consumo de luxo e até, como Ronaldo, a bancos. Mas nunca me passou pela cabeça que o género "parque tecnológico" lhe conviesse. Felizmente, há em Portugal espíritos com mais subtileza. Fico à espera do resultado.

Outro ponto me intriga. A popularidade do futebol vem, em grande medida, de ser apolítico. Se alguns clubes acabam por representar certas regiões (como, em Portugal, o FC Porto representa o Norte contra os "mouros" de Lisboa; ou o Barcelona representa a Catalunha contra o centralismo de Madrid), não existe um único associado a um partido ou sequer genericamente à esquerda ou à direita. Com os jogadores sucede o mesmo. Um jogador, ainda por cima retirado, como Figo, perde valor publicitário, quando se identifica politicamente. Portugal inteiro aprova e lembra o seu génio de futebolista, mas Portugal inteiro com certeza não aprova o seu amor por Sócrates. Não deixa, por isso, de ser curioso que Luís Figo se resolva de repente sacrificar por uma causa duvidosa e minoritária. Aquele pequeno-almoço não se digere com facilidade.


Público



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