sábado, 20 de fevereiro de 2010

Soares, Sócrates & companhia ilimitada

Comparadas com as que se vão comprovando, do PS de Sócrates, as histórias que Rui Mateus contou de um PS desconhecido, o de Mário Soares, são brincadeiras de criança...


Suspeita de corrupção na campanha do PS

O DIAP de Lisboa investiga o crime de corrupção na negociação do apoio eleitoral de Luís Figo a José Sócrates. Secretário de Estado da Defesa soube de tudo e não se opôs



Suspeita de corrupção na campanha do PS

A PT e a Tagusparque foram utilizadas pelo seu administrador Rui Pedro Soares para obter o apoio de Luís Figo à campanha de José Sócrates para um segundo mandato de primeiro-ministro.

Nas escutas telefónicas realizadas no âmbito do inquérito Face Oculta, que decorre em Aveiro, percebe-se como Soares contou com a ajuda de Américo Thomati e João Carlos Silva (presidente executivo e administrador da Tagusparque) para alegadamente pôr ao serviço dos interesses do PS funcionários, meios e fundos financeiros daquelas duas empresas com capitais públicos.

Os magistrados de Aveiro, onde decorre aquele processo, extraíram uma certidão com vista à abertura de um inquérito autónomo, que decorre no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.

Secretário de Estado soube... e conformou-se

À partida, as suspeitas são de crimes de corrupção e infidelidade e o inquérito visa analisar a relação entre o apoio eleitoral de Luís Figo a Sócrates e os contratos que o ex-futebolista e uma empresa a que está ligado (a Football Dream Factory) estabeleceram com a PT e a Tagusparque. Pretende-se também averiguar os actos de gestão de Rui Pedro Soares, Thomati e João Carlos Silva.

A investigação já originou buscas judiciais, realizadas esta semana nas sedes da PT, em Lisboa, e no Taguspark, em Oeiras. No seguimento dessa operação conjunta do DIAP e da Polícia Judiciária, Rui Pedro Soares – sujeito a grande pressão para se demitir desde há duas semanas, após a divulgação pelo SOL das primeiras escutas do Face Oculta – acabou por renunciar ao mandato de membro da Comissão Executiva da PT (ver pág. 7).

As escutas realizadas pela Polícia Judiciária de Aveiro no processo Face Oculta indicam também que o plano de Rui Pedro Soares foi aceite tacitamente por um dos dirigentes socialistas responsáveis pela campanha eleitoral: Marcos Perestrello, membro do Secretariado do PS (órgão máximo executivo) e actual secretário de Estado da Defesa. Informado por Penedos dos objectivos de Rui Soares, Perestrello não só não reprovou o plano, como ainda afirmou: «Isso vale muitos votos! Essa m... em subsídios de desemprego…».

João Carlos Silva diz que as escutas citadas pelo SOL«estão descontextualizadas»: quando diz a PauloPenedos que o contrato de Figo «não dá dinheiro», não se está a referir à «rentabilidade dos contratos», mas sim ao facto de Luís Figo desejar «um contrato a três anos firmes, num total de 750 mil euros». «Era muito caro para nós. Por isso, conseguimos negociar um contrato anual, renovável se assim o entendermos», por 350 mil euros – disse ao SOL.

Acordo ‘pornográfico’

Tudo começa três meses antes das eleições legislativas de Setembro passado. Pelo meio da operação de compra da TVI pela PT, Rui Pedro Soares deu um salto a Milão, a 15 de Junho. «Vai encontrar-se com o Figo para com ele celebrar uma coisa um bocado pornográfica», informa Paulo Penedos a Marcos Perestrello, em grande segredo. Essa «coisa» era o apoio eleitoral de Luís Figo a José Sócrates. Em troca, seria negociado um «contrato de patrocínio para a Fundação Luís Figo, à razão de 250 mil euros por ano», segundo Penedos.

A ligação entre o contrato de patrocínio e o apoio do futebolista a Sócrates é reforçada pelo próprio Paulo Penedos, quando Perestrello (membro da direcção nacional do PS) lhe diz que o nome de Figo não constava na sua lista de personalidades que iriam prestar depoimento nos tempos de antena. «Faz-te de novas que o nome vai-te aparecer» – diz Penedos.

‘Não preciso de contrapartidas’, diz Figo

Luís Figo apoiou publicamente José Sócrates em dois momentos: numa entrevista ao Diário Económico, em Agosto, destacada no site do PS, e num pequeno-almoço no último dia da campanha (25 de Setembro).

Em declarações ao SOL, Figo nega peremptoriamente que essas declarações sejam uma contrapartida pelos contratos que estabeleceu com o Taguspark ou com a PT. «Não preciso de contrapartidas de ninguém.Sempre fiz pela minha vida pelos meus próprios meios. É totalmente verdade que apoiei o engenheiro José Sócrates. Identifico-me com pessoas e não com partidos. Se as pessoas se lembrassem bem, a primeira vez que me referi de forma positiva a José Sócrates foi numa entrevista à SIC e ao Expresso, em Maio de 2008», recorda.

Ao que o SOL apurou, foram de facto elaborados três contratos – mas nenhum com a Fundação Luís Figo (como diz Paulo Penedos). A deslocalização da Fundação para o Taguspark chegou a ser equacionada, mas a ideia caiu.

O primeiro acordo foi assinado entre Luís Figo e a Tagusparque, liderada por Américo Thomati, e tem por objecto a participação do agora dirigente do Inter de Milão numa campanha internacional de promoção do parque tecnológico. Figo confirmou ao SOL que gravou mesmo um filme no estádio do Sporting no dia 25 de Setembro (o dia do pequeno-almoço com Sócrates). Certo é que a operação publicitária ainda não viu a luz do dia.

Ontem, ao final da tarde, fontes da Tagusparque informaram que iriam agora colocar on-line o filme em que Figo participou e que, afirmam, só foi concluído em Dezembro.

Através do seu porta-voz, Luís Figo informou ainda o SOL«que o contrato tem o valor de 350 mil euros, a duração de um ano (renovável anualmente por um prazo máximo de dois anos)», «foi aprovado e finalizado em Junho e assinado em Agosto de 2009, iniciando os seus efeitos nessa altura». Figo explicou ainda as suas obrigações (que alega ter cumprido escrupulosamente) passam, entre outras actividades, «por participar um dia completo, uma vez por ano, em eventos organizados ou participados pelo Taguspark».

O segundo contrato está relacionado com a Football Dream Factory (FDF), empresa detida por Luís Figo (24%) e pelo sócio João Guerra (75%). A FDF tem por objecto social a descoberta de novos talentos futebolísticos através de um site semelhante ao portal You Tube (que funciona na internet à base de vídeos colocados pelos internautas). Luís Figo é a cara do projecto, mas o capital investido é exclusivamente de Guerra (ex-director da Central de Cervejas que é autor do projecto).

Por ser uma empresa com fins sociais, a FDF não paga qualquer renda à Tagusparque, ficando obrigada a promover o parque tecnológico localizado em Oeiras.

A FDF fez também um segundo contrato com a PT através de Rui Pedro Soares, em que a PT é apresentada como parceiro tecnológico da FDF – ou seja, é a responsável pelo armazenamento dos dados (os vídeos) e garante através dos seus servidores o funcionamento do sítio na internet. Por outro lado, Rui Pedro Soares (administrador que tinha a seu cargo os pelouros dos patrocínios e da publicidade da holding da PT) garantiu ainda à FDF a publicidade da PT e da sua empresa MEO.

Ao que o SOL apurou, o primeiro contacto entre Rui Pedro Soares e Carlos Guerra apenas aconteceu em Julho de 2009 – mês em que a FDF foi criada e em que recebeu os apoios da PT.

Ao SOL, Carlos Guerra afimrmou: «Estes acordos não envolvem qualquer vertente financeira, assentando na permuta de serviços entre as partes contratantes, e foram exclusivamente negociados por mim com cada uma das instituições parceiras».

Thomati promete colaborar com Justiça

Segundo fontes da PT e do Taguspark, foi Rui Pedro Soares quem indicou Américo Thomati (ex-administrador da PT Saúde, empresa tutelada por Soares) para administrador do pólo tecnológico.

O ascendente manifesta-se também através de Penedos. No dia 22 de Junho, o então administrador executivo da PT pediu a Penedos que fosse saber se os contratos de Figo e Mourinho estavam prontos para irem à reunião da Comissão Executiva da Tagusparque, na quinta-feira seguinte. João Carlos Silva explica depois a Paulo Penedos que não conseguem apresentar o assunto à Comissão Executiva (que tem um terceiro elemento, nomeado pela Câmara de Oeiras) na data desejada por Rui Pedro. «A gente tem de cozinhar isto de maneira a dar dinheiro... A gente tem de cozinhar isto de maneira a tapar os olhos dos outro, tás a perceber?» – pergunta JoãoCarlos Silva. Os «outros» são Vítor Castro (o terceiro administrador executivo) e Isaltino Morais, autarca de Oeiras, com quem João Carlos Silva tinha encontro marcado no dia seguinte, para «benzer» o negócio.

Contactado pelo SOL, Américo Thomati disse que «prestará às autoridades toda a colaboração desejada» – mas recusou fazer qualquer comentário aos contratos com Figo e a FDF.


SOL





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