João Cândido da SilvaOs adaptadosA posição do Governo sobre os grandes projectos de investimento público está a mudar. Passou da intransigência maniqueísta para uma atitude de prudência. Mais vale tarde do que quando já é demasiado tarde. E só é pena ter...A posição do Governo sobre os grandes projectos de investimento público está a mudar. Passou da intransigência maniqueísta para uma atitude de prudência.
Mais vale tarde do que quando já é demasiado tarde. E só é pena ter sido necessária uma nova e grave crise nas contas públicas para que o assunto começasse a ser olhado com maior cautela. Isto, no caso de as aparências não estarem a ser trabalhadas para criar novas ilusões.
Nos tempos mais recentes, não faltaram alertas sobre os perigos de aumentar o endividamento do país sem obter retorno compensador, através da concretização de obras que foram agitadas pelo Governo como as chaves para o aumento do emprego e a aceleração do crescimento. Mas também não faltou a teimosia cega, adubada por uma maioria absoluta mal manuseada.
Exemplos? Em meados do ano passado, um grupo de economistas manifestou publicamente o seu cepticismo sobre as intenções do Governo. Pediu uma reavaliação de obras como a alta velocidade ferroviária, com o objectivo de pesar os respectivos custos e benefícios, sem preconceitos de baixa política a atrapalharem a busca de conclusões.
Não só o bom senso elementar do documento caiu em saco roto, como deu origem a reacções mais motivadas por meras questões de posicionamento político e partidário do que pela vontade de analisar com seriedade a substância das matérias. Onde devia estar uma troca de argumentos fundamentados, vislumbrou-se apenas a prioridade de matar a questão e selá-la com um ponto final, tão definitivo quanto intelectualmente indigente.
A História prega partidas e a realidade é, por natureza, persistente. A credibilidade das projecções do Governo sobre a situação das finanças públicas no fecho do balanço de 2009 recebeu o tiro de misericórdia. Está morta e bem morta. O défice registou um recorde histórico, a dívida pública caminha a passos largos para um nível comprometedor e o endividamento externo não lhe fica atrás.
As campainhas de alarme soaram nos mercados em que Portugal se financia, as agências de "rating" seguiram o mesmo caminho e atacar a sua credibilidade, numa altura em que querem mostrar que não estão dispostas a cometer os mesmos erros do passado, adianta pouco ou nada. Pode não se simpatizar com o médico que faz o diagnóstico e sugere os remédios, mas lá que a doença existe, ninguém pode negar.
É neste enquadramento, em que Portugal surge aos olhos de actuais e potenciais credores com um risco mais elevado, que o Governo dá sinais de recuo. O segredo pode estar no facto de o Ministério das Finanças ter na sua posse um estudo que mostra como algumas opções podem vir a transformar-se num erro caro e insustentável, ao erguerem uma miragem no lugar onde devia estar o objectivo de retirar a economia de um largo ciclo de estagnação.
Na entrevista que o "Expresso" publicou este fim-de-semana, as declarações de Fernando Teixeira dos Santos são sintomáticas. De projecto indispensável para a competitividade portuguesa, ou para os madrilenos virem desfrutar as praias lisboetas, o TGV passou a ser um problema que tem de ser "adaptado à realidade orçamental", nas palavras do ministro das Finanças. Devia ter sido sempre assim. Mas é possível que o incompreensível optimismo do Governo o tenha impedido de conhecer mais cedo a verdade das contas públicas.
negocios.pt
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
Ou serão inadaptados?...
Há que lembrar que o actual Ministro da Economia veio com um grupelho (de economistas) do PS com um manifesto contrário, em defesa do TGV...
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