quinta-feira, 17 de julho de 2008

A Política do Medo

Os professores andam com medo da própria sombra. Saiba como se criaram as condições para o triunfo da mentira

A mentira é como o vírus do ébola

O medo regressou e em força. São cada vez mais os professores que enviam emails com denúncias que terminam com um pedido de "por favor, não me identifique!" Nós sabemos que os modernaços montaram um sistema kafkiano, diria mesmo goebelsiano, de controlo, vigilância e repressão. Numa manobra de engenharia social, que faria encher de orgulho Estaline e Goebels, os modernaços montaram um sistema que impôs a autocensura aos professores e que os leva a ter medo da própria sombra. Primeiro, construiram a arquitectura jurídica: estatuto da carreira docente, modelo burocrático de avaliação de desempenho e novo modelo de gestão. Depois, calaram os sindicatos. Sabe-se lá como e porquê! De seguida, acenaram com migalhas de poder aos adesivos. O sistema está montado e assenta num artifício muito simples: associar a avaliação de desempenho dos professores aos resultados dos alunos. É essa associação que incentiva e permite a construção da grande mentira. Todos mentem. E mentem porque tem de ser. Tal como acontecia durante os planos quinquenais do fim da era de Estaline, no final dos anos quarenta e princípios da década de 50, todas as unidades de produção, sovietes incluídos, exageravam nos resultados e colocavam nos relatórios aquilo que os comissários políticos queriam ler. Havia fome nas cidades nos campos porque a produção de cereais caíra para os mínimos? E depois? O que interessavam eram os relatórios. Se os relatórios diziam o contrário, era porque a ficção fabricada para agradar aos comissários era preferível à dura e crua realidade dos pessimistas que ainda não tinham sido capazes de fazer o corte com a realidade e formatar a cabeça de acordo com a estrutura cognitiva do Homem Novo. Agora, passa-se o mesmo nas escolas portuguesas. Os professores habituaram-se a mentir porque perceberam que a ficção construída para agradar aos comissários políticos é preferível à nua e crua realidade. O corte com a realidade está a fazer-se desde 2005. E faz-se atraves da escrita e das acções de propaganda, ditas acções de formação sobre avaliação de desempenho. A escrita de relatórios permite o desenvolvimento de competências de literacia ao estilo do orwelliano do "double-speak". A aquisição do "double-spaeak" faz-se, sobretudo, através dos relatórios que os professores são obrigados a redigir, respondendo a questões dirigidas, em formato de grelhas, que induzem o professor a construir uma "realidade" de faz-de-conta. E o professor faz isso porque sabe que o colega do lado também faz. É uma espécie de ébola que tudo contamina. A mentira impõe-se porque é mais fácil e mais lucrativa, a curto prazo, do que a verdade. A pior herança desta equipa ministerial foi a criação de condições nas escolas para o triunfo da mentira.

Ramiro Marques


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