segunda-feira, 30 de junho de 2008

A Branca de Neve e os seus Anões


António Ribeiro Ferreira depois de forjar a imagem simpática e competente da Ministra da Educação numa putativa entrevista que mais parecia uma agradável conversa de dois grandes amigos, vem agora elogiar o José Sócrates como um Super Primeiro-Ministro que, omnipotente e omnisciente, consegue governar vários ministérios ao mesmo tempo, a tal ponto que em vez de um temos vários Josés Sócrates.

Mas tal discurso laudatório, de tão elogioso que é para este génio da governação, negando-se a si próprio contém uma das maiores críticas que se podem fazer ao elogiado.

De facto, se o Governo só tem "Anões" e uma Branca de Neve, quem escolheu tais "Anões"? Não foi José Sócrates?

E se só escolheu "Anões" para o Governo foi porque os mais competentes não quiseram estar num Governo deste tão baixo calibre? Ou terá sido porque o Primeiro-Ministro é tão pequenino que teve de escolher ministros ainda mais pequenos do que ele para não lhe fazerem sombra?





Os Josés Sócrates

Um empresário conhecido da praça teve um desabafo muito curioso: "Tenho muita pena que o Governo não tenha mais alguns Josés Sócrates."

O homem estava manifestamente desolado com o facto de ter feito um investimento de muitos milhões de euros num negócio de biocombustível, com o apoio do primeiro-ministro, e agora não conseguir colocar o produto no mercado porque o preço do combustível teria de aumentar um cêntimo. Apesar da tristeza com o investimento feito com o aval de José Sócrates, o empresário deste sítio não tem razão. Anda é distraído com os seus negócios, de um lado para o outro, e não se deu conta dos Josés Sócrates que andam por esses ministérios a substituir os que se julgam ministros do Governo.

Vejamos alguns casos. A ex-ministra da Cultura, sentada no Palácio da Ajuda, imaginava que mandava no sector e tinha poder para discutir e decidir alguma coisa. Meteu-se com o comendador Berardo e a sua colecção de arte moderna e acabou mal. O José Sócrates da Cultura chegou a acordo com o empresário madeirense e o Centro Cultural de Belém ficou por conta dos seus quadros, com o Estado a pagar-lhe uma verba pelo favor que o accionista do BCP fez aos indígenas.

Mário Lino, que ainda hoje pensa que é ministro das Obras Públicas, imaginava que o novo aeroporto seria na Ota. Enganou-se redondamente. O José Sócrates das Obras Públicas fez um negócio com a CIP, mandou o LNEC reapreciar uns estudos sobre a localização e o aeroporto foi parar a Alcochete. Rui Pereira, ministro da Administração Interna, imaginava que mandava na PSP e na GNR. Foi mandado para o Brasil na altura em que os camionistas ameaçavam bloquear o País e foi o José Sócrates da Administração Interna que chamou o director da PSP e o comandante da GNR para accionar um plano de acção caso não houvesse acordo com os amotinados. Mário Lino, que além das Obras Públicas imagina-se ministro dos Transportes, andou horas em reuniões com os camionistas. Mas foi o José Sócrates dos Transportes que acabou por decidir os termos do acordo com os camionistas.

Jaime Silva, que imaginava ser ministro da Agricultura, atirou umas pedradas às confederações do sector. O José Sócrates da Agricultura obrigou-o a dar o dito pelo não dito, desmentiu-o em público e pacificou os agricultores. A verdade é que o Governo deste sítio cada vez mais mal frequentado tem uma Branca de Neve chamada José Sócrates e uns tantos anões. Mais nada.

António Ribeiro Ferreira, jornalista
30 Junho 2008 - 00h30



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