quarta-feira, 26 de março de 2008

A mancha que alastra... e chega à universidade



A ignorância e a iliteracia vindas do ensino básico e do secundário já chegaram à universidade há alguns anos. Aliás, os licenciados (quase) analfabetos estão agora a regressar às escolas como professores... Não fosse a falta de vagas nas escolas e o modelo de cafrealização da sociedade portuguesa planeado pelos sábios da Av. 5 de Outubro estaria já em plena auto-reprodução.

Agora está a chegar à universidade a nova fornada de energúmenos passados administrativamente pelo sistema de Roberto Carneiro e de Ana Benavente, com base na ponderação dos valores e das atitutes para compensar a falta de conhecimentos e de competências...

Só que essa escória aparentemente humana não tem nem valores nem atitudes consentâneas com a frequência do sistema de ensino, nem básico, nem secundário e muito menos ainda universitário. Mas eles estão lá a chegar...

O texto que se segue é do professor Rui Bebiano, docente na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

Há menos de um mês, ao passar na escadaria desta honorável instituição observei uma bando de energúmenos cuja conversa versava sobre o consumo de drogas na noite anterior... Eram alunos desta instituição... como podiam ser de qualquer outra do Portugal abrilino...

Um dia, se houver vaga, esta escumalha chegará a professor e quem sabe a ministro ou secretário de estado da educação.

Eis a descrição de Rui Bebiano na sequência do caso da agressão da Escola Carolina Michaëlis:


O caso leva-me a reflectir sobre a minha própria experiência, e a falar aqui de um assunto que permanece tabu, ainda que falado entre dentes, com sinais de vergonha, por professores, agora do ensino superior, que não sabem o que fazer e começam também a temer o pior. Dou aulas numa universidade desde 1981, e, naturalmente, ao longo de todos estes anos tenho-me confrontado, na relação mantida com dezenas de milhar de alunos, com comportamentos muito diferenciados no espaço das aulas. Apesar dessa diversidade, e tendo conservado sempre uma relação nada autoritária com a generalidade deles, jamais tive o menor problema disciplinar. Tanto quanto sei, a mesma coisa se passava com quase todos os meus colegas (as raríssimas excepções ficaram quase sempre a dever-se a atitudes de incompetência ou de arbitrariedade). Quando começaram a suceder-se os problemas disciplinares nas escolas secundárias, estes não se reflectiram logo nas universidades, presumindo-se sempre que os estudantes entretanto «cresceriam» e manteriam já comportamentos responsáveis quando chegassem aos nossos anfiteatros.

Mas tudo mudou há cerca de dois ou três anos atrás. A verdade é que, após as sucessivas vagas de alunos com deficiente formação científica imposta por programas e métodos no mínimo discutíveis, começaram a chegar às escolas superiores estudantes com uma quase nula formação cívica e frágil capacidade de autoresponsabilização. E, pela primeira vez, eu e muitos colegas - com toda a experiência de anos de trabalho, com todo o prestígio que a maioria acreditava ter conquistado para a vida - começámos a ter problemas: alunos que conversam sistematicamente durante as aulas, que chegam atrasados todos os dias, que entram e saem sem uma palavra, que não desligam o telemóvel, que se dirigem ao professor de forma impertinente, que exigem facilidades confundidas com direitos sem cumprirem deveres, que em muitos casos nem sequer distinguem claramente as competências de quem ensina e as suas próprias obrigações. Falta o último passo que, ao que se vê, no ensino secundário há já muito tempo foi dado: transformar as aulas num campo de batalha.

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