Sabia-se, claro, que o aborto clandestino não tinha acabado com a entrada em vigor da nova lei, a 15 de Julho. Note-se, aliás, que em países onde o aborto por vontade da mulher está legalizado há muitos anos - e com prazos superiores de gestação, até às 12 semanas - como é o caso da Itália, ainda se crê existirem anualmente vários milhares de abortos clandestinos apesar de o número de abortos legais ter vindo a baixar (44% entre 1982 e 2006). A nova lei tem oito meses de prática, é cedo para tirar conclusões sobre os seus efeitos ou fazer contas, quaisquer que sejam. Tudo o resto - o aproveitamento de casos como o da Torredeita para "provar" que a lei não "soluciona ao problema do aborto clandestino", as "guerras de números", as "acusações de desonestidade intelectual dos partidários do "sim" - é apenas deplorável. Só há uma coisa que se pode dizer: é que hoje é possível escolher entre um aborto legal e um ilegal. E isso faz toda a diferença - do ponto de vista da saúde e da dignidade humana, em primeiro lugar. Mas também do ponto de vista da aplicação da lei criminal.
Diário de Notícias
15/2/2008
Seja legal ou ilegal, onde estará a dignidade humana no aborto?
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