domingo, 10 de fevereiro de 2008

«Forte e feio»


Está difícil, pá!

A realidade é cada vez mais negra para os cidadãos que não são políticos, não roubam multibancos e recusam ser corruptos

O mês de Janeiro não foi nada fácil para o senhor presidente do Conselho, José Sócrates. Longe vão os tempos felizes da Presidência da União Europeia, das cimeiras, muitas, dos tratados, dos abraços, das assinaturas com pompa e circunstância, do “porreiro, pá”. De regresso à vidinha deste sítio cada vez mais deprimido, cada vez mais perigoso e cada vez mais mal frequentado, o senhor presidente do Conselho teve algumas surpresas desagradáveis e é de novo o protagonista principal de mais uma série de trapalhadas. Depois da licenciatura em Engenharia Civil na extinta Universidade Independente, surgem agora os extraordinários projectos assinados pelo engenheiro técnico José Sócrates e as dúvidas sobre a legalidade do subsídio de exclusividade a que os senhores deputados, coitados, têm direito para representarem na Assembleia da República os eleitores que ainda votam de quatro em quatro anos em listas partidárias que valem o que valem. Isto é, valem cada vez menos, uma vez que os eleitos se estão literalmente nas tintas para quem lhes deu o voto, suspendem e renunciam aos mandatos e vão tratar das suas vidinhas sempre que lhes aparece uma oportunidade de negócio, um emprego bem remunerado no Estado ou no sector privado. Seja como for, o senhor Presidente do Conselho andou em Janeiro numa roda- -viva, entre remodelações mais ou menos pífias, confusões entre ministros e secretários de Estado e as trapalhadas profissionais da sua vida de engenheiro técnico. Mas o que interessa verdadeiramente, que passa ao lado dos grandes noticiários e que a propaganda governamental tenta atirar todos os dias para o lixo, é a situação desgraçada em que se encontra o sítio e o pessimismo crescente dos indígenas que teimosamente ainda vivem e trabalham nesta choldra. Os dados que a propaganda tenta apagar dos noticiários falam por si. O desemprego é o terceiro mais elevado dos 27 países da União Europeia e o índice de confiança dos consumidores voltou a registar uma forte queda no mês de Janeiro, atingindo o nível mais baixo desde Setembro de 2005.

O discurso estafado do senhor presidente do Conselho sobre as culpas dos outros no mau estado do sítio esgotou-se de uma vez por todas. Três anos depois de ter chegado ao poder, o senhor engenheiro técnico projectista, mais tarde engenheiro civil, começa a viver dias difíceis. A propaganda começa a ser insuficiente para esconder uma realidade cada vez mais negra e cada vez mais insuportável para os cidadãos que não são políticos, não roubam multibancos e recusam ser corruptos.

António Ribeiro Ferreira, Jornalista
Correio da Manhã
10/2/2008



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